Polícia recua e registra como injúria por preconceito abordagem a adolescente em supermercado

Publicado em 05/04/2025 01:23

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Rio - Reviravolta no caso da adolescente negra acusada de roubo por um segurança em um supermercado na Taquara, na Zona Oeste. A Polícia Civil voltou atrás na decisão e enquadrou o fato como injúria por preconceito. Inicialmente, os policiais registraram o episódio como 'caso atípico'. Na quarta-feira (2),Nyvia da Silva, de 16 anos, foi acusada por um segurança da rede atacadista Dom de furtar um pacote de biscoitos. fotogaleria Luciana Paula Barreto da Silva, 45 anos, mãe de Nyvia, disse aoDIAque foi à 32ª DP (Taquara) pela segunda vez na manhã desta sexta (4), quando o registro de ocorrência foi alterado. "Depois de muita luta, consegui. Já estava indo embora quando me chamaram para alterar para racismo (injúria por preconceito)", afirmou. A reportagem deO DIAteve acesso ao registro de ocorrência, no qual é possível observar uma justificativa de aditamento como "retificar a tipificação do delito" para ocorrências de "injúria" e "injúria por preconceito", com capitulação no artigo 2 da lei 7716/89. A mãe da jovem afirma que enfrentou resistência na distrital antes da modificação: "Falaram que ela não foi xingada, como quem diz que o registro não sairia como racismo. Mas uma advogada me instruiu como fazer, e acabou saindo como racismo (injúria por preconceito)". O DIAentrou em contato com a Polícia Civil para confirmar a alteração, mas a corporação respondeu apenas que "a investigação está em andamento na 32ª DP" e que "agentes realizam diligências para apurar o ocorrido". A rede de mercados Dom Atacadista também foi procurada, mas não se posicionou. O espaço está aberto para eventuais manifestações. O caso Segundo Luciana, Nyvia saiu de um curso e foi ao Dom Atacadista já segurando o biscoito, que havia comprado em outro estabelecimento. Ao sair do local, decidiu guardar o pacote na bolsa, mas foi interceptada pelo segurança, ainda não identificado, que a acusou de furto. "Ele pegou minha filha, que é menor de idade, pelo braço e a acusou de furto, perante todos os clientes", disse. Uma outra cliente chegou a se apresentar como testemunha a favor da garota, mas foi necessário que Luciana, ao saber do caso por telefone, levasse ao supermercado a nota fiscal do biscoito, a fim de comprovar que o item fora adquirido em outro supermercado. Abordado pela família, o gerente da loja teria afirmado desconhecer a situação. Luciana lembra que acionou a Polícia Civil e que, já na loja, um agente da 32ª DP (Taquara) teria tentado desmobilizá-la quanto a um registro de ocorrência: "Ele me informou que não daria em nada porque não houve crime. Mas será que se fosse uma menina branca de olho claro, isso teria acontecido?". A mãe diz que, já na distrital, ouviu que havia feito uma interpretação equivocada das circunstâncias. Posteriormente, a família se encaminhou para a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), onde foi orientada a retornar à 32ª DP para que a ocorrência fosse registrada como racismo, o que aconteceu na manhã desta sexta (4).

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