Rio - Lara Mara, neta de Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém,preso em operação na manhã desta quinta-feira (8), denunciou a ação de policiais civis durante o cumprimento do mandado. Em relato nas redes sociais, ela alega que os agentes chegaram em sua casa de forma violenta, agredindo sua avó Deise Mara, de 62 anos, e sua tia.Na porta da Cidade da Polícia, a neta, que é presidente da Escola de Samba da Unidos de Padre Miguel, contou que não houve troca de tiros e que a família foi abordada de forma truculenta pela polícia. Segundo as alegações, os agentes teriam cometido um suposto abuso de autoridade."Não teve troca de tiro alguma, a polícia entrou dentro da minha casa atirando, agredindo a minha avó de 62 anos, que tem câncer, agrediram minha tia, agrediram a gente, esculacharam. Meus irmãos estavam dormindo dentro de casa, isso não existe! Que esculacho é esse? A gente não vai se calar, a gente quer ser ouvido, a gente é família, a gente não é bandido, quer levar preso? Tem mandado de prisão? Vem namoral, Não existiu troca de tiros, esculacharam foi a gente e queremos lutar pelos nossos direitos", disse.Ainda segundo Lara, ela teve o portão atingido por disparos. "A polícia entrou na minha casa esculachando, isso não existe! Lá também vive trabalhador, eu estudo, eu faço direito, sou estudante, também sou trabalhadora, não sou bandida, não sou criminosa, minha família não é criminosa, que esculacho é esse? Entraram atirando, a porta da minha casa está cheia de cápsulas. Deram um soco na boca da minha avó, o que uma senhora de 62 anos que tem câncer vai fazer contra a polícia? A minha tia, que tem problema de lúpulos?", afirmou.A presidente da escola reforçou ainda que a família não estava armada e questionou a ação dos policiais. "O que a gente fez? A gente tava armado? Isso é um absurdo! Estou indignada, trataram meu avô igual um bicho. Não teve troca de tiros! Eles deram um tiro pra pra arrombar o portão da minha casa, estou indignada, isso não existe e vou lutar pelos meus direitos porque isso não pode acontecer", finalizou. Procurada, a Polícia Civil ainda não se pronunciou sobre o assunto.Operação A ação, realizada por agentes da 32ª DP (Taquara), da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) e da Subsecretaria de Inteligência (Ssinte), faz parte da "Operação Contenção", uma ofensiva estratégica para conter e atacar o avanço territorial do Comando Vermelho na Zona Oeste do Rio. Segundo as investigações, Celsinho estava se aliando a outras lideranças de grupos rivais para promover disputas territoriais e retomar comunidades de Santa Cruz que estão atualmente sob influência da milícia. De acordo com a Polícia Civil, o principal objetivo foi desarticular a estrutura financeira, logística e operacional da organização criminosa, além de prender traficantes que atuam na região. Até o momento, já foi solicitado bloqueio de mais de R$ 6 bilhões em bens e valores da facção criminosa. Testemunhas revelaram intenso tiroteio na localidade, com homens encapuzados circulando na região antes da chegada da polícia. Na ação, um dos disparos teria atingido um transformador, deixando parte da Vila Vintém sem energia. Após ser detido, Celsinho foi encaminhado em um veículo blindado até a Cidade da Polícia, no Jacarezinho. Histórico no crime Celsinho da Vila Vintém é considerado um dos traficantes mais perigosos da década de 90. Preso há 20 anos, ele deixou o presídio em 2022. Além de tráfico de drogas, o criminoso responde por diversos crimes, como roubo a bancos e homicídios.Criador da facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA), Celsinho tem um histórico de fugas em presídios. Preso pela primeira vez em 1994, ele fugiu da penitenciária Milton Dias Moreira, no Complexo de Gericinó, mas foi recapturado dois anos depois, por policiais militares, na comunidade que ele comandava.Em 1998, o traficante conseguiu fugir novamente do sistema penitenciário após ser transferido para retirar uma bala alojada no braço direito no Hospital Penitenciário Fábio Maciel, na rua Frei Caneca, no Catumbi, Região Central do Rio. Ele não realizou a intervenção, e teria saído pela porta da frente da unidade, vestido com uma farda da PM.Considerado um bandido sanguinário,Celsinho chegou a negociar a própria vida com Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, chefão do Comando Vermelho, durante rebelião no Complexo de Bangu em setembro de 2002. Na época, traficantes ligados ao chefe da facção Comando Vermelho teriam executado quatro chefes de grupos rivais. Ele teria conseguido se manter vivo alegando que passaria o controle de venda de drogas da Vila Vintém para a facção rival.Em 2014, ele foi transferido para uma unidade federal após ser apontado como o idealizador — mesmo preso — de uma tentativa de resgate de internos no Fórum de Bangu, em 2013. Na ocasião, uma criança de 8 anos e um policial foram mortos. Ele foi solto em 2022 após uma decisão da Justiça,que o concedeu o direito dele responder em liberdade pela invasão à Rocinha, no ano de 2017. Condenado a mais de 30 anos, o traficante chegou a obter a progressão do regime fechado para o semiaberto em janeiro de 2021, mas não tinha deixado a prisão devido ao histórico de fugas.