Maior operação da Polícia Civil identificou ‘previdência’ do crime e banco em comum entre CV e PCC

Publicado em 10/04/2025 19:45

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Rio - Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (10) sobre a "maior operação da história da Polícia Civil", representantes da corporação detalharam a investida, feita horas antes, que culminou no pedido de bloqueio patrimonial deaproximadamente R$ 6 bilhões movimentados em um anopor uma parceria entre Comando Vermelho (CV), do Rio, e Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. Parte da Operação Contenção, a ação teve como alvo a lavagem de dinheiro dos grupos. Dois homens foram presos e dispositivos eletrônicos apreendidos. fotogaleria Depósitos com notas cheirando a drogas; uma “previdência” do crime; e um banco em comum usado pelas facções foram algumas das particularidades citadas sobre o esquema, que virou alvo de investigações há cerca de sete meses. "Essa ação foi criada recentemente para conter a expansão do Comando Vermelho no estado do Rio, principalmente, nesse primeiro momento, na Zona Oeste da cidade, em bairros como Barra da Tijuca, Recreio, Jacarepaguá e as Vargens. São R$ 6 bilhões. É a maior operação da Polícia Civil na questão da lavagem de dinheiro", listou Felipe Curi, Secretário de Estado de Polícia Civil. De acordo com as investigações, a trama financeira conjunta passava por fintechs (bancos digitais), cerca de 30 empresas de fachada e regiões de fronteira, incluindo as com Paraguai e Bolívia. O objetivo dos criminosos era usar o dinheiro lavado não só para comprar armas e drogas, mas, sobretudo, financiar expansões territoriais. Por isso, Curi aponta a ação como cirúrgica por tocar em um ponto mais sensível do crime organizado: “Quando vamos às comunidades e prendemos lideranças, essas pessoas são imediatamente substituídas. Há uma grande rotatividade no tráfico. Mas quando desbaratamos uma engenharia complexa do crime organizado, eles vão levar muito tempo para se reestruturar”. Nota com cheiro de droga Também presente à coletiva, o delegado Jefferson Ferreira, titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), destrinchou a engenhosidade da lavagem de dinheiro que uniu CV e PCC. O ponto de partida da operação, de acordo com ele, foi uma troca de informações com instituições financeiras. A partir daí, os investigadores identificaram, em um primeiro momento, diversas pessoas como depositantes – em agências da Zona Sul e da Barra, principalmente - de valores divididos em notas de baixo valor, como R$ 5, R$ 10 e R$ 20. Mas além desse fracionamento, um outro detalhe chamou atenção. “Muitas notas estavam mofadas e com cheiro de drogas”, revelou o delegado. Tais depósitos eram semanais e, embora fracionados em notas baixas, ficavam entre R$ 150 mil e R$ 750 mil. Por meio desses depósitos, os agentes constataram que todos os depositantes possuíam ligação com comunidades dominadas pelo CV. A investigação apontou ainda que o destino desses depósitos era uma empresa em São Paulo, do ramo de perfumaria. A companhia, porém, era fantasma. "A sócia está cadastrada em programas de auxílio emergencial, por razão de miserabilidade”, destacou Ferreira, revelando o passo seguinte do esquema: “O dinheiro era pulverizado para dezenas de outras empresas, todas de fachada, de ramos diversos, como floricultura, plataformas contábeis, que tinham redes sociais ativas, quando na verdade eram usadas para lavar dinheiro do tráfico”. Banco em comum Dessas diferentes companhias, as cifras seguiam para uma fintech sediada em São Paulo, que tem como sócio oculto um indivíduo que está preso e é cunhado de um integrante do PCC, que também se encontra detido. O passo seguinte era destinar o dinheiro para as áreas de fronteira, de onde as quantias retornavam como lucro para o CV – o que possibilitava a aquisição de drogas e armas para expansão territorial no Rio - e as empresas fantasmas: “As duas facções usavam a mesma fintech para fazer passagem de dinheiro oriundo de atividades criminosas. O mesmo banco digital trabalhava para os dois grupos. E isso não é à toa, pois faz parte da aliança”, observou Curi. Ainda sobre a fintech, que não teve o nome revelado, o delegado Ferreira acrescentou: “Parecia ser um banco, mas possuía relação efetiva com atividades ilícitas”. ‘Previdência’ do crime De acordo com Curi, uma das finalidades do esquema era sustentar uma 'caixinha' do Comando Vermelho: “Era para pagar uma espécie de benefício previdenciário para parentes de presos, integrantes da facção e parentes das lideranças. Então estamos interrompemos esse fluxo com o bloqueio desses R$ 6 bilhões”. Apesar do elo bem arquitetado entre as facções, entretanto, a investigação não detectou uma intenção do PCC de operar em território fluminense: “Temos comprovado que é uma aliança estratégica e logística, para fins de lavagem de dinheiro, compra de armas, munições e drogas. Não se trata, por exemplo, de o PCC entrar aqui e ocupar território”, concluiu Curi.

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