Ação contra furtos de cabos descobriu ligação entre recicladoras, ferros-velhos e metalúrgicas com CV

Publicado em 24/04/2025 15:00

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Rio - A Polícia Civil descobriu que o esquema de furto de cabos alvo da segunda etapa da Operação Caminhos do Cobre acontecia por meio de uma ligação entre recicladoras, ferros-velhos e metalúrgicas com o Comando Vermelho. Aação desta quinta-feira (24) prendeu cinco membros da quadrilhaque movimentou cerca de R$ 200 milhões em comunidades e outros endereços do Rio e São Paulo. De acordo com o secretária de Estado da Polícia Civil, delegado Felipe Curi, a primeira fase da operação conseguiu indícios do envolvimento de empresas desses setores, a partir da prisão de responsáveis pelas maiores recicladoras do Rio. Entretanto, à época, os agentes miravam crimes de receptação, que dificilmente resultam na permanencia na prisão dos envolvidos, por ser considerado sem violência ou grave ameaça. Agora, no entanto, as investigações da Delegacia de Roubos Furtos (DRF) conseguiram provar o envolvimento das empresas com a facção para o furto e receptação de cabos. "Isso é inédito. A gente tinha conhecimento disso, mas uma coisa é ter conhecimento e outra é ter isso provado em uma investigação bastante criteriosa e complexa que foi feita. Essa vinculação está provada e, com isso, nós conseguimos o indiciamento dos investigados por organização criminosa, lavagem de dinheiro, entre outros crimes". Ainda de acordo com o secretário da Polícia Civil, os roubos de cabo são geralmente associados à pessoas em vulnerabilidade social e usuários de drogas, mas a prática é mais complexa e ocorre como um ciclo, que termina na reinserção do material no mercado, que volta a ser furtado. "Geralmente um usuário de drogas vai lá furtar um pedaço de cabo de cobre, que é levado para um ferro-velho, geralmente pequeno. O receptador do ferro-velho já passa isso para uma empresa média ou uma recicladora, que por sua vez, transforma isso em matéria-prima, vende para grandes indústrias e metalúrgicas país afora, e isso volta depois como cabo, que novamente é furtado. Ou seja, é um ciclo criminoso e vicioso". O Diretor Geral do Departamento de Polícia Especializada, delegado André Neves, declarou que se na fase anterior os empresários envolvidos no esquema não tiveram punição pelos crimes, agora eles serão responsabilizados, já que são eles quem fomentam a indústria criminosa. "Quem fomenta tudo isso é quem adquire esses produtos. Só há essa quantidade enorme de crimes, porque existe um empresário fomentando isso, ganhando vultuosa quantia em dinheiro. Então fica o alerta, se no passado se respondeu tão somente por receptação, as investigações da Polícia Civil ao longo desse período vêm mostrando expertise na análise financeira, lavagem de dinheiro e organização criminosa, fica o recado para todos aqueles que insistem em atuar à margem da lei, o empresariado, que certamente serão responsabilizados". De acordo com o delegado Carlos Oliveira, da Subsecretaria de Planejamento e Integração Operacional, o furto de cabos entrou no rador do tráfico de drogas por conta do alto valor do cobre. "O cobre é um material de valor muito alto, o preço da tonelada é cerca de 9 mil dólares e alguns especialistas dizem que esse ano ainda pode alcançar 15 mil dólares. Então, nós temos hoje organizações criminosas especializadas especialmente no narcotráfico com uma ingerência muito grande nessa indústria criminosa de furto, receptação e comercialização clandestina de cobre", destacou. Ainda segundo Oliveira, o narcotráfico atua para garantir a segurança da operação, seja com o fornecimento de 'batedores' armados que escoltam os criminosos durante furtos de cabos subterrâneos realizados de madrugada com uso de caminhões, ou na proteção de receptadores primários que abrem pequenos espaços para receber os materiais em comunidades controladas pelo Comando Vermelho. Em troca, os traficantes recebem parte do valor obtido com os crimes. Em uma das ações dos bandidos, a facção ficou com cerca de 50% do lucro. "Eles 'entraram de cabeça', hoje nós temos vários receptadores primários que abrem um pequeno espaço dentro de uma comunidade, para receptar cobre e outros metais valiosos, que recebem a cobertura desses narcotraficantes. Nós estamos falando num mercado que atingiu, em 2022 na última atualização, faturamento, só no Brasil, de R$ 7,45 bilhões. O sindicato das empresas de condutores elétricos estima que 30% dessa valor é de venda clandestina de cobre. É todo um ciclo em que há falcatruas em cada trecho". O delegado afirmou também que o Rio de Janeiro já ocupou a segunda posição no ranking de estados com maior número de roubos de cabos do país, mas com o avanço das investigações e identificações de envolvidos na prática, atualmente está na décima. Ele também pontuou que o crime é um problema mundial que afeta inclusive Estados Unidos e China, e o Brasil aparece como o quinto país mais impactado. *Colaborou Reginaldo Pimenta

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