⌛ É triste observar que, históricamente, os pioneiros, os precursores, muitas das vezes somem. Em grande parte das vezes, este sumiço ocorre pelas apropriações do movimento. Todo mundo quer ser "dono da porra toda". Em outros casos, os próprios "aliados" destroem o pioneiro por inveja. Analisando o "andamento" histórico da cidade do Rio de Janeiro, sobretudo para a camada social mais jovem. De 2015 em diante, pudemos observar o "derretimento" dos valores éticos e morais. Poderíamos focar no espectro político, mas vamos delimitar esta avaliação somente para o cenário social e musical. Historicamente, o cenário musical foi responsável pela evolução cultural e histórica de uma sociedade. Desde a transformação de vidas, como o caso do cantor seu Jorge, que por um breve momento de sua vida foi morador de rua. Outro caso emblemático que também marcou o cenário musical carioca: Marcelo D2. O cenário musical sempre foi um elo de transformação social, tanto para quem consome, quanto para quem produz. A apropriação do movimento cultural e muscial, em especial ao cenário carioca, é triste. A liberdade de produção e a velocidade de informação e transmissão de conhecimento tornou possível os chamados home-studios, facilitando a criação de conteúdo, em especial os conteúdos musicais, tornando a cultura "maker" no cenário musical, algo acessível, o que inicialmente deu voz ao povo esquecido e pôde causar transformações e catalizar movimentos legítimos em prol da liberdade de expressão artística e pelas causas sociais. O processo de conteúdo compartilhado aliado a cultura "maker" possibilitou com que pessoas autonômas pudessem administrar negócios de onde estiverem, sem intermediação burocráticas. O caso da uber é clássico, mas o advento de plataformas de conteúdo adulto é uma coisa que poucos observam. Quando digo observar, não falo sobre consumir, mas sim avaliar a conjuntura economica e administrativa de toda a máquina. Alguns anos atrás, no início dos anos 2000, todo mundo, em todo canto - em alguns casos até escondiam - as famosas revistas de conteúdo adulto. A mais famosa: Playboy. Marca americana, soube explorar os desejos mais subliminares e "ocultos" que o ser humano pode ter. A evolução da comunicação e consolidação do mercado de banda larga fez com que o comportamento de consumidor mudasse, fazendo com que a revista Playboy, que antes controlava o mercado e detinha boa parte da fatia do bolo sumisse e desse lugar à produção de conteúdo autônomo. Hoje, qualquer mulher consegue criar conteúdo com o seu próprio celular e vender as fotos em plataformas online de venda de conteúdo adulto. Quinze anos atrás isso não era possível - e/ou acessível - para todos. O cenário musical também foi vítima deste movimento de um Exército/Legião indepedente de criadores de conteúdo. Muitos criadores, influenciados pelo "hype" de criar, outros com objetivos escusos através da criação e disseminação de conteúdo de caráter estratégico. 📌Com o boom das redes sociais, valores e ideais foram sendo corroídos, a educação foi ficando cada vez mais em segundo plano. Negligência do pai e mãe, do Estado e do próprio jovem, que, como um rato, cede aos impulsos dopamínicos. De certa maneira, todos nós, em algum "camada" acabamos cedendo aos impulsos da "carne", rs. A vida é uma eterna batalha contra os impulsos e desejos, uma batalha injusta e que muitas vezes seduz com mais facilidade. Fato indubitável, podemos citar o caso do Tigrinho, do avião, e diversas outras coisas. A promessa de vantagem para um povo miserável seduz facilmente. Quem não tem nada, qualquer coisa é o dobro. Nessa ganância, a engrenagem gira e passa por cima de quem teve o gosto, mesmo que momentâneo, da ilusão. Afinal de contas, quem nunca viveu alguma ilusão? rs, 😂. O filósofo Piton, digo, Bauman, fala sobre a geração de relações líquidas, onde nada satifaz como antes. Talvez causado pelo intenso estímulo contínuo de informações propiciada pelas redes sociais. Redes sociais, que Bauman dizia ser, de certa forma, uma "armadilha". Explicava que a rede social muita das vezes infla ainda mais a "bolha", ligando pessoas com mesmos interesses e com mesmos pensamentos, criando uma massa de informação contínua, fortificando aquele ideal, dentro daquele grupo. Coisas muito normais já não satifaz, valores "virtuais" são perdidos na liquidação social em troca eo ego e validação pela "bolha", alimentando ainda mais o "conformismo ideal" e destruindo a capacidade crítica, além de destruir o sistema de recompensa do cérebro. Mas, ainda assim, para muitos vale a pena ficar o dia todo usando a tela em busca de mais prazer imediato, destruindo o que ainda resta do sistema de recompensa. 🛑 Quantas vezes você checa o telefone em busca de uma notificação? rs. O celular tornou-se uma ferramenta de soft-power. Qual o ativo mais valioso no Planeta? se você respondeu "Celular", "dados", "redes-sociais" ou qualquer coisa que não tenha sido: "ATENÇÃO!" você errou. 🚦 O PODER flui aonde está a ATENÇÃO de um determinado público. Isso vale tanto para o caso da Playboy, como para o caso dos taxis, como para diversas outras situações. O poder estar intrisicamente conectado ao ativo mais poderoso do mundo, a Atenção. E a atenção pode ser comprada, adquirida, concedida, construída ou fingida. O advento das redes sociais tornou o mundo mais veloz, tornou a informação em algo instântaneo, tornou o mundo mais fácil e, de certa maneira, deixou as coisas mais complicadas. Um paradoxo pensar assim, eu sei. Mas, da mesma forma que a "globalização" nos ajudou, também criou/possibilitou que, um "Exército" de pessoas com interesses e objetivos escusos tivesse mais poder, pois aonde a atenção está, é para aquele ponto que o poder flui. Isso é nitido nas campanhas políticas, se a atenção está toda no candidato x, muito provavelmente o candidato x vai vencer a eleição. Salvo casos em que exista uma atenção "negativa". Diante destes pontos elencados, podemos prosseguir ao aprofundamento da análise do espectro cultural em relação ao cenário muscial. 🔥 Primeira vítima de uma guerra é a verdade. Isso é importante para o desenvolvimento deste artigo. Embora a primeira vítima da guerra seja a verdade, a verdade que prevalece na história é a de quem ganha a guerra. Quando uma facção/grupo armado não estatal, financia, mas também passa a produzir e disseminar seus ideais em músicas nós começamos a caminhar para um caminho de degeneração social, onde os valores sociais, éticos e morais começam a ser transgredidos e passam a ser confundidos só mais uma "Música". A janela de Overton consegue explicar muito bem o meu argumento. O que antes era impensável, agora, tornou-se cotidiano. O problema, porém é que estes valores impostos por grupos armados não estatais são valores condizentes ao que esta organização determina como "CERTO". Embora pareça ser apenas mais uma música, o problema é que, por trás da música ingênua, existem objetivos escusos, que muitas vezes, toram a pik (problemática) no cú dos próprios ouvintes, rs. Além disso, o problema é que morre o homem, mas não morre o som. Quando o homem morre, toda a atenção é voltada para aquele acontecimento, neste momento, o homem - músico ou "músico" - acaba, tornando-se eterno, mesmo depois de ter partido, seu legado continua, suas músicas continuam. O filme V de Vingança demonstra uma luta ideológica sobre controle e poder político, mostra a resistência civil em forma de um personagem libertário que luta contra a tirania, no caso em específico, contra a tirania estatal. Este filme pode ser traduzido todo em um única frase: "IDEIAS NÃO MORREM, ELAS SÃO A PROVAS DE BALA". Compreender esta frase num cenário de guerra assimétrica e informacional num contexto de transição de período de guerras e restruturação de grandes potências é fundamental. Marcelo D2 em um som lançado em 2013/15 disse: "Para quem trabalha desde os 13 e nunca recorreu ao "12", da valor ao que conquista, não vai querer viver de pose." É importante avaliar que no ano de lançamento desta música houve o início do movimento de home-studio (ESTÚDIO DE MÚSICA "CASEIRO) e muitos "artistas" foram surgindo. O problema não é e nunca será o livre mercado no cenário musical ou qualquer outro cenário, o problema verdadeiro é a apropriação cultural. Em termos práticos, entra um doidão que não fez porra nenhuma, nunca construiu nada e fala que agora é artista, rs. "Cardique" não posso ser artista? rs. "Cardique"? "Ahn.." "Querem me calar". 🛑 Embora ninguém me veja e poucos me conheçam, em minhas jornadas, nunca me deparei com diversos "cantores"/"artistas" que estão no auge da fama atualmente. Os contatos e o financiamento - em alguns casos ilícitos - fazem com que estes pseudo-artistas consigam furar a bolha e começar a fazer parte do chamado "MAINSTREAM". O movimento do hip-hop, que sempre representou um movimento de resistência cultural e meio de conscientização foi "tomado" dos negros por alguns brancos que apropriaram-se do movimento. E isso não é só sobre "cor", mas sim sobre um povo, identificação, luta resistência e luta através da cultura. Fazendo um paralelo, com suas devidas ressalvas às técnicas e procedimentos de cada estilo, mas é como se uma pessoa de "fora" quisesse falar que criou o Jiu Jitsu Brasileiro. Todos podem praticar e/ou produzir o estilo que bem entender, mas apropriar-se da cultura dos outros e lucrar em cima disso, além de não ser ético, demonstra o movimento que citei lá no começo. "Todo mundo quer ser dono da porra toda", mas pela cultura alicerçada do "jetinho"/aquele "desenrolo" aliada a uma fome de querer ser "dono da porra toda", faz com que estas pessoas apropriem-se da cultura e em longo prazo, os pioneiros, os criadores, os precursores, somem, em alguns casos por desgosto em ver a causa destruída, o movimento ter perdido a essência inicial, o vigor a vontade, pois a apropriação cultural contra um povo é a forma mais sofisticada que pode existir de fazer um genocídio, não da vida, mas das mentes e dos corações de um povo inteiro, impondo, controlando e lucrando em cima da mão de obra e criação dos pioneiros. ♟️Ao matar uma cultura e impor a sua, você não precisa exterminar um povo para controlar aquela terra, você já começou a fazer isso através de uma forma mais sofisticada e menos "barulhenta", lembra do princípio da atenção? Quando você joga xadrez 4D, você entende que certas ações demandam sigilo. Exterminar um povo da muito trabalho e chama muita atenção. Atenção em momentos errados pode levar ao colapso do poder em decorrência da perda do controle efetivo sobre o poder administrado por quem realiza a "jogada". Um exemplo deste tipo de guerra sofisticada pode ser exemplificado com o que tem acontecido na Europa. Existe um movimento sendo executado por "forças especiais" de infiltração e "colonização". Refugiados legítimos dividem espaço com refugiados que são elementos do movimento Islâmico que querem levar e implantar a sua religião àquele povo de forma "silenciosa", muitos já estão em cargos políticos, diversos outros em camadas do poder constituido. É importante observar que estes movimentos visam eclodir uma sociedade, impondo o controle normativo e controlando políticamente um país. Voltando ao cenário local, Marcelo D2, em seu clássico "DESABAFO" diz: "Grandes planos, paparazzos demais. O que vale é o que você tem e não o que vocÊ faz. Celebridade é Artista, artista que não faz arte. Lava a mão como pilatos achando que já fez sua parte. Deixa pra lá, eu continuo viajando..." - Embora Marcelo D2 não agrade a todos os públicos, é inegável que suas críticas sociais são cirúrgicas. A atuação de D2 mostra como o movimento hip-hop foi marcada por resistência e luta pelos direitos que ele quis lutar. O ideal num mundo democrático é isso, mesmo não concordando, conseguir avaliar de forma crítica e livre de viés ideológico, onde todos possam exercer a liberdade expressão e direito a manifestar-se. ⏳ Em um mundo onde o poder reside na atenção e a cultura é moeda de dominação, a apropriação não é apenas estética — ela é estratégica. A música, a arte, os símbolos e os valores que um dia foram expressão legítima de resistência e identidade tornam-se, cada vez mais, ferramentas de manipulação, diluídas por interesses escusos que operam nos bastidores da visibilidade. O que está em jogo não é apenas a sonoridade ou a estética, mas a alma de uma cultura, sua memória e sua força mobilizadora. O Rio de Janeiro, em seu caldeirão fervente de desigualdades, criatividade e contradições, tornou-se palco dessa guerra silenciosa. Uma guerra onde o inimigo não vem com farda, mas com likes, contratos, algoritmos e cifras. Os pioneiros somem - e não por acaso. Eles somem porque incomodam. Porque lembram. Porque desafiam. Porque são prova viva de que a cultura tem dono: o povo. E quando esse povo é silenciado, manipulado ou, pior ainda, convencido a consumir a contracultura, o genocídio simbólico se concretiza. É preciso lembrar que, assim como as ideias não morrem, também não morre a responsabilidade de quem as carrega. Resgatar o sentido, reocupar o espaço, reconectar-se com as raízes é um ato político, artístico e de sobrevivência. Porque, no fim das contas, se a cultura for o campo de batalha, que cada verso, cada beat, cada rima e cada escolha estética seja uma trincheira contra o apagamento. E que os verdadeiros criadores jamais se curvem à ilusão do aplauso fácil ou à lógica do algoritmo. Que resistam. Que continuem. Que vençam e que nunca se curvem aos ideais escusos de grupos armados não estatais que tentam a todo custo apropriar-se e implantar a narco-cultura ao povo daquele território controlado.